Samba da Benção

Trilha sonora:

untitleda space odysseyNo www anterior comentei a emoção, alegria, o Brazilian proud, que senti ao saber que Assim falava Zaratrusta, trilha sonora do filme 2001 Uma Odisséia no espaço é do brasileiro Eumir Deodato.

Esse feeling extraordinário aconteceu em Nova York, dois meses antes do nascimento do meu baby, o jornal The Brasilians, patrocinador com a TV Globo Internacional, do Dia do Brasil, criado por mim em 1985, na Rua 46, centro de Manhattan, a principal ilha das cinco que formam a grande New York.

Agora é a vez do Samba da Benção. Jóia de som e poesia. Música do magistral violonista carioca Baden Powell. Letra do mineiro, poeta e diplomata, Vinicius de Moraes.

Onde eu estava quando ouvi, pela primeira vez, o Samba da Benção, conhecido como Samba da Oração e Saravá?

Verão. Moscou: Um homem e uma mulher

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A notícia correu pelo apijijite da universidade. “Tem filme francês com música brasileira”. E lá fui com Márcia, namorada cubana, para o cinema Aurora, centro de Moscou assistir Un homme et une femme com Jean Louis Tritignant e Anouk Aimée. (Dois viúvos se encontram no colégio interno dos filhos. Ela perde o ônibus. Ele, piloto automobilístico, a leva de carona a Paris. E se apaixonam).

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Eu já “conhecia” Anouk Aimée do filme La Dolce Vita do mestre Fellini. A morena, com jeito de aristocrata e devassa, marcou-me mais que a sueca Anita Eckberg tomando banho na Fontana di Trevi. O strip tease de Nadia Grey ao som do mambo Patrícia, de Perez Prado, está em mim até hoje.

Algo incrível aconteceu comigo e a música Saravah cantada por Pierre Barouh. O samba estava lá. Mas, durante o filme não foi fácil entender a letra da música em francês. Vibrei com os nomes dos homenageados pela benção de Vinicius.

Foi o venezuelano Miguel Sinetar quem fez o brasileiro “descobrir e entender” a música que empolgou a França, a Europa, e na seqüência, o Brasil. Ele cantava em francês.  Eu ficava repetindo: “E se hoje ele é branco na poesia, ele é negro demais no coração”.

Um homemCom o colega Miguel descobri a Venezuela: “Yo naci en una ribera…soy hermano de la espuma, de las garzas, de la brisa en el palmar, amo, lloro, rio, sueno y le canto a Venezuela. Vizinho da Colômbia eu não conhecia Se va el caimán, se va el caiman, se va para Barranquilla”.

E com Miguel Sinetar sonhei juntar-me à guerrilha de Petkoff, Bravo, Américo. E pelos ensinamentos dele, um dia, em Nova York, no Carnaval do Brasil, no mundialmente famoso Waldorf Astoria Hotel, conquistei um amor venezuelano: a bela Marisol.

Poesia traduzida, LP vindo de Paris, eu saia cantando o Samba da Benção, explicando o que era saravá, pelos dormitórios da universidade Patrice Lumumba. A música entrou em mim, depois do filme. E foi ficando, ficando, empolgando, emocionando, orgulhando. Para sempre. Recebi a benção em momento eletrizante na minha vida de revolucionário. Sonhador.

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*No Brasil, general Artur da Costa e Silva, o segundo presidente militar. * O casamento de Pelé com Rosemary. *Nos Estados Unidos, Lyndon Johnson, o vice de John Kennedy, vencia as eleições para mais um mandato e aumentava o número de soldados no Vietnam. * Golpe militar na Argentina. *Na URSS, Leonid Breznev, substituiu Nikita Kruschev. *Charles De Gaulle visitava Moscou.*Soldados chineses nas fronteiras da Rússia. *A Guerra Fria a todo vapor. *Três “linhas” no movimento comunista internacional: a soviética, pela via pacifica. A cubana, pela via armada, o foco guerrilheiro de Che Guevara, já na Bolívia. A linha chinesa, contra o revisionismo soviético com empolgação da Revolução Cultural do livrinho vermelho de Mao-Tse-Tung.

Benção, ou não, aquele verão moscovita mudou a minha vida para sempre. Eu havia passado um ano em hospital e sanatório para curar tuberculose linfática. Precisava de ação, de novos ares. Somente Uma mulher e um Homem sabiam o que revelo agora: preparava para deixar a universidade e ir juntar-me ao grupo de apoio ao Che.

(Líder estudantil. No Jornalismo e Radialismo. Naquele momento eu não sonhava estudar em Moscou. De Cuiabá fui trabalhar ano e meio como editor do jornal Correio de Corumbá e na Rádio Clube. Na fronteira, ia com freqüência a Puerto Suarez, San Matias, Roboré, Santa Cruz. Fiz amigos bolivianos entre os estudantes, mineiros, lavradores, índios, empresários, militares).

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Che Guevara na Praça Vermelha. Inti Peredo é o primeiro à esquerda. Corumbá, fronteira com a Bolívia.

Eu conhecia a região por onde o Che entrou na Bolívia. A universidade fervilhava com noticias sobre ele. Colegas bolivianos, os irmãos Inti e Oswaldo Peredo, com os quais conversava muito, foram juntar-se à guerrilha na qual não havia brasileiros. Naquele momento, eu teria sido o primeiro. Com o Che lutaram: 29 bolivianos. 17 cubanos. Tânia, argentina – alemã. 3 peruanos. 4 argentinos naturalizados.

Música marcante em nossas vidas.

Todos nós temos música marcante em nossas vidas. Pela mudança de países, costumes, ritmos, eu tenho várias. O Samba da Benção surgiu no momento mais bonito, mais ingênuo, na vida de um jovem brasileiro que sonhava em ser apenas um Hermano latino americano.

Se, hoje os franceses, alemães, europeus em geral, ouvem, gostam, dançam, admiram, promovem, samba e outros ritmos brasileiros, nós devemos àqueles como Vinicius e Baden que levaram ao Velho Continente o melhor de nossa música e poesia.

Nenhum governo fará isso por vocês, por nós.

imagesICC252AGA ditadura considerou o Samba da Benção critica ao regime (é melhor ser alegre do que triste). Um homem e uma mulher destacando a música de dois brasileiros “exilados” era filme da esquerda francesa.

Com o ebola cultural que se abateu sobre os nossos sons, cores, ritmos, o Samba da Benção está na prateleira da horrível grade televisiva brasileira. Esquecido, como tantos outros, pela cultura da mediocridade. Pelo plágio descarado. Pelo Nem-Nem da inércia. Nem cria. Nem divulga.

No exterior, assumam, por favor, a liderança na defesa, divulgação, perpetuação, do melhor da cultural brasileira. Traduzam o Samba da Oração. Vejam o filme Um Homem e uma Mulher (Um Homem e Uma Mulher 20 anos depois).

imagesATFANFFJPromovam um revival da música. Cantem o samba como canção de ninar, de amar. Em Paris, falem com Pierre Barouh que adora “bater papo” em português. Ele foi fundamental na divulgação da nossa música.

Aos músicos, cantores, cantoras, artistas em geral, no exterior, peço que não deixem a memória se apagar. Coloquem em seus repertórios, eventos, restaurantes, música de Vinicius, Baden, Toquinho, Maria Creusa, Jorge Ben, Tom Jobim, João Gilberto, Sergio Mendes, Martinho da Vila, Alcione, Nonato, Milton Nascimento, Caetano, Gil, Bethânia, Daniela Mercury, Elza Soares, Jocafi, Quinteto Violado, Elis Regina, Wilson Simonal, Emílio Santiago…

Com o Samba da Benção todo dia é Dia do Brasil.

Teste o seu BR

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1.Em que ano foi lançado o filme Um Homem e uma Mulher e quais os principais prêmios que ganhou? 2. Onde, na Europa, Ruy Barbosa viveu, deu aulas? 3. Em 1985, o prefeito de Nova York proclamou o Dia do Brasil festa oficial da nossa Independência. Subiu ao palco do evento. O nome dele?

Benção aos que, no exterior, divulgam, promovem, defendem, o melhor da nossa cultura:

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